Consumo de calçados na América Latina deve crescer mais de 4% nos próximos anos
A produção de calçados, comércio do setor e projeções da atividade na América Latina foram temas da 26ª edição do Foro Latinoamericano de Calzado, realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) durante o dia 20 de maio.
Abrindo as apresentações, a coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, falou sobre o mercado de calçados na América Latina e janelas de oportunidades para o setor. Com um PIB de US$ 6,6 trilhões, que representa mais de 6% de toda a economia mundial, a América Latina possui 665 milhões de habitantes e um mercado gigantesco a explorar. Já a produção de calçados do bloco é a segunda maior do mundo, atrás apenas da Ásia, com mais de 1,5 bilhão de pares produzidos por ano “A perspectiva é de um crescimento do PIB regional em torno de 2% a 2,5% nos próximos dois anos, média acima das economias desenvolvidas. Trata-se de um mercado potencial para calçados, com projeção de crescimento de mais de 4% no consumo nos próximos cinco anos”, disse.
Segundo a coordenadora, embora o grande mercado, o consumo de calçados intra-bloco ainda é muito dependente das importações, especialmente da Ásia. “Em 2023, as importações de calçados na América Latina ficaram próximas de US 7 bilhões. O nosso saldo comercial, como bloco, é deficitário em 3,6%. As importações de calçados da Ásia são 85% do total. Existe espaço para crescimento intra-bloco”, comentou Priscila.
Entre as vantagens do comércio intra-bloco, Priscila destacou a proximidade geográfica, que favorece a logística para escoamento de produtos, as similaridades culturais, as tarifas reduzidas para importação proporcionadas por relações bilaterais entre os países latino-americanos, entre outros pontos. Por fim, como ferramenta de incremento de competitividade, a coordenadora salientou as práticas ESG. “Nossa indústria de calçados na região já é mais sustentável do que a mundial, em especial a da Ásia. Precisamos usar o nosso posicionamento para ter vantagens competitivas diante de um consumidor mais exigente”, comentou. Segundo ela, mais de 50% da geração de energia elétrica na América Latina é oriunda de fontes renováveis, mais do que o dobro da média mundial. Já no campo social, enquanto China, Vietnã e Indonésia ratificaram apenas 25 convenções da Organização Mundial do Trabalho (OIT), em média, os países da América Latina ratificaram mais de 70 convenções do órgão, em média.
Desafios da indústria
Na sequência, o painel Desafios Comuns da Indústria da América Latina teve como debatedores Horacio Moschetto, secretário Geral da Cámara de la Indústria de Calzados da Argentina (CIC); Miguel Gutierrez, presidente da Camara Nacional de Calzado do Equador (CALTU); Alejandro Delgado, presidente da Cámara de Cuero y Calzado de Nicaragua (CAMCUNIC); e Edwin Reyes, vice-presidente da Cámara de Calzados da Guatemala (GRECALZA). Na oportunidade, os representantes das indústrias da região falaram sobre os desafios para a competitividade. No Equador, Gutierrez destacou que a maior dificuldade está na dolarização da economia do País, o que torna o produto local mais caro.
Na Argentina, Moschetto salientou que as primeiras barreiras comerciais para a indústria argentina estão no próprio país, com o encarecimento das exportações. “Também existe uma ameaça do governo atual, de liberar total as importações. Seríamos golpeados com a inundação do nosso mercado com calçados asiáticos”, disse. Segundo ele, outro problema tem sido a economia argentina, com alta na inflação e baixos salários. “Nossas vendas caíram mais de 40% no quadrimestre”, informou.
Na Nicarágua, Delgado ressaltou que a principal dificuldade tem sido com mão de obra, já que os jovens do pPaís estão optando por outras profissões e emigrando para os Estados Unidos em busca de melhores oportunidades de trabalho. “Estamos trabalhando em conjunto com o Governo para criar mais carreiras técnicas para que jovens que saem da escola possam aprender a fazer calçados. Acredito que em um ou dois anos, conseguiremos repor essa mão de obra perdida”, concluiu.
Já na Guatemala, Reyes destacou o problema das fraudes nas importações de calçados, provenientes principalmente da China. “Existe um problema grave de subfaturação que está prejudicando a nossa competitividade, embora esse problema venha se resolvendo nos últimos anos”, disse.
Promoção Comercial
No segundo painel, participaram o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira; o presidente da Cámara de Empresarios de Insumos y Maquinas do Peru e diretor da Expo Detalles, Ricardo Espinoza; e o presidente da Asociación Salvadoreña de Productores de Calzado y Afines (ASPCA), Héctor Antonio Ramos Castro. Na ocasião, os representantes falaram sobre a promoção comercial local e internacional. Segundo Ferreira, o mercado doméstico brasileiro é o principal destino das vendas da indústria nacional, mas existe um mercado internacional importante para o produto verde-amarelo.
Para a promoção no exterior, o executivo destacou que a exportação precisa estar no DNA das empresas. “É um trabalho que deve ser contínuo. Exportações não são oportunidades pontuais, é preciso estruturar estratégias perenes para seguir no mercado externo”, disse. No caso da Abicalçados, a entidade tem o apoio fundamental da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Por meio do programa conjunto Brazilian Footwear, as entidades apoiam empresas brasileiras no mercado internacional em feiras, eventos e também trazendo compradores estrangeiros para realizar negócios no Brasil.
Outro ponto que, segundo Ferreira, deve ser cada vez mais reforçado como forma de posicionamento no mercado doméstico e internacional é a sustentabilidade nas suas dimensões ambiental e social. “No Brasil, temos a única certificação de ESG para empresas da cadeia produtiva do calçado no mundo, o Origem Sustentável. Acreditamos que o caminho para a competitividade, especialmente para fugir da concorrência no preço promovida pela Ásia, seja trabalhar os nossos diferenciais de sustentabilidade”, concluiu.
Inovações na indústria
O terceiro painel do evento trouxe o tema Inovações na Indústria, com os debatedores Maurício Battaglia, presidente da Cámara de la Industria de Calzado del Estado de Guanajuato e da Cámara Nacional de la Industria de Calzado do México (CICEG/CANAICAL); William Parrado, vice-presidente executivo da Asociación Colombiana de Industriales del Calzado, el Cuero y sus Manufacturas, (Acicam); e Alejandro Biasiolli, presidente da Cámara de la Industria del Calzado del Uruguay (CICU).
Na ocasião, Bataglia destacou que as inovações na indústria de calçados do México têm levado muito em consideração a questão da sustentabilidade, com foco no desenvolvimento tecnológico, reutilização de resíduos e menor consumo de água na produção. Segundo ele, o caminho para o incremento da competitividade da indústria passa pelo desenvolvimento tecnológico, mas também pela sustentabilidade e o maior estreitamento do relacionamento com a cadeia de fornecedores.
Parrado ressaltou que a indústria de calçados na Colômbia vem investindo em tecnologia, mas convive com muitos produtos informais, o que afetam diretamente a competitividade e imagem do setor. “Hoje, temos 54 milhões de pares produzidos, sendo apenas 26 milhões pelo mercado formal”, informou. Para o dirigente, além de combater a informalidade, é preciso estreitar o relacionamento com a academia visando o incremento da inovação e do design.
Com uma indústria pequena, Biasiolli disse que o foco do setor, no Uruguai, tem sido a inovação. “Mas não somente no processo, mas na venda. É preciso passar esse movimento para o consumidor na ponta da comercialização”, comentou.
Marcas fortes
“Todo varejo precisa virar marca e toda marca precisa virar varejo”. Dessa forma, o CEO da WT.AG, Lucas Feltes, abriu sua apresentação sobre marcas fortes e o futuro do varejo. Segundo ele, para que o negócio tenha sucesso comercial, é preciso que as duas pontas estejam alinhadas. Na oportunidade, Feltes ressaltou a importância do uso das tecnologias para gerar experiências diferenciadas e positivas para o comprador.
“Nosso fluxo no varejo físico vem caindo a cada ano. Precisa ser uma experiência muito legal para levar o consumidor à loja”, disse. Para criar essa experiência, o especialista orienta o uso de tecnologias como o ChatGPT, aplicativos com informações e funcionalidades dos produtos, entre outras. O uso de ferramentas como o TikTok, especialmente para engajar e fidelizar a geração Z, é outro ponto de atenção.
Varejo
Três cases do varejo latino-americano vieram na sequência. O primeiro a ser apresentado foi do Grupo Oscar, que possui 180 lojas e emprega mais de 3 mil pessoas em todo o Brasil. “Triplicamos de tamanho nos últimos anos e seguiremos crescendo. Mas, para ter sucesso, é preciso ter estratégias acertadas em termos de marketing, investir na integração com o digital e sobretudo, engajar o próprio colaborador”, listou o diretor de Compras e Comercial do grupo, Naiche Van der Poel. Sobre o investimento em marketing, o diretor ressaltou que tem gerado bons resultados o trabalho com influenciadores digitais.
Na sequência, foram apresentados os cases dos grupos Mario Hernandez, da Colômbia, e Julia y Tornero, do Chile.
Feiras internacionais
O últimos painel de debates trouxe o tema das feiras internacionais de calçados, com o CEO da Nürnbergmesse Brasil, João Paulo Picolo; da gerente de Exposições da Expo Riva Schuh, GianPaola Pedretti; e German Gonzales, presidente-executivo da Acicam. Picolo falou sobre a segunda edição da BFSHOW. Já a tendência de produtos sustentáveis e confortáveis foi destacada por GianPaola, enquanto a importância do fortalecimento do relacionamento com compradores e fornecedores foi destacada pelo representante da Acicam, promotora da IFLS + EICI.
O evento encerrou com palestras de Marnei Carminatti, consultor do INSPIRAMAIS, evento realizado pela Associação das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), e de Luana Lanzini e Luana Savadintsky, do Fashion Directions.