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Mercado interno deve impulsionar crescimento da produção de calçados

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Diferentemente de 2022, quando as exportações sustentaram boa parte do crescimento do setor calçadista no Brasil, em 2023 será o mercado doméstico o motor do incremento da produção. A avaliação foi a tônica da segunda edição do Análise de Cenários no ano, um evento promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) no dia 10 de outubro de 2023, no formato on-line.

No início do evento, o doutor em Economia e consultor setorial, Marcos Lélis, fez uma análise macroeconômica do mundo e do Brasil. Segundo ele, o PIB mundial deve crescer cerca de 3% em 2023. Apesar do crescimento, é uma dinâmica inferior à média histórica. Os Estados Unidos, segundo principal destino do calçado brasileiro no exterior, crescerá menos, 1,8%. Já a Argentina, primeiro mercado internacional para o produto nacional, deverá registrar uma queda de 2,5% no PIB. “A instabilidade no mercado internacional, causada pela alta da inflação e pela alta nas taxas de juros, vem prejudicando o desempenho internacional da nossa indústria. Soma-se a isso, o fato do aumento da concorrência do calçado asiático no âmbito internacional”, comentou.

No Brasil, segundo Lélis, o crescimento do consumo das famílias, componente da demanda interna, tem impulsionado a atividade, principalmente desde o segundo trimestre do ano. “No Brasil, temos um cenário de aumento no consumo de calçados, explicado pela inflação em queda e aumento no poder de compra, além de um gradual crescimento da renda real no País, propiciado pelo aumento dos empregos com carteira assinada. Por outro lado, o alto endividamento da população brasileira é um impeditivo para melhores projeções de consumo. Em 2023, a inadimplência chegou a mais de 71 milhões de pessoas no País. “O Brasil possui cerca de 44% da população adulta inadimplente, o que limita a expansão do consumo de bens não essenciais”, disse. Segundo ele, a economia brasileira deve crescer em 2023, na casa de 2,9%, muito embalada pelo crescimento da agropecuária no primeiro trimestre do ano, além do aumento do consumo doméstico, mas isso necessariamente não quer dizer ganhos mais significativos para a indústria nacional.

Calçados

Na segunda parte do evento, a coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, falou sobre o mercado de calçados. Tendo produzido 543,8 milhões de pares até agosto deste ano, um incremento de 0,1% sobre o mesmo período de 2022 , a indústria calçadista ainda tem níveis produtivos 7% abaixo dos registrados em 2019, na pré-pandemia. Para 2023, a projeção da Abicalçados é de um incremento entre 1% e 1,7% na produção, o que significa mais de 860 milhões de pares. Já para 2024, Priscila projeta um crescimento entre 1,5% e 2,8% na produção, para em torno de 870 milhões de pares de calçados.

A produção em 2023, segundo Priscila, será impulsionada pelo mercado doméstico. “O crescimento do consumo interno deve ficar entre 3% e 3,4%, enquanto as exportações devem cair em torno de 9%. Para 2024, o comportamento de desaceleração no mercado externo deve se manter, de modo que o crescimento dependerá, assim como em 2023, do mercado interno brasileiro. O incremento do consumo doméstico, em 2024, deve ficar na faixa de 2,6% a 3,1%, enquanto as exportações, em pares, ficam mais instáveis, tendo uma banda que vai de queda de 4,7% a um incremento de 0,9%”, concluiu.

Volta da Ásia

Segundo Priscila, o retorno da Ásia, em especial da China, ao mercado vem prejudicando a performance da indústria calçadista nacional no cenário internacional. Entre janeiro e agosto de 2023, a China havia exportado 6,1 bilhões de pares. Apesar da retração de 3,9% nos embarques, ante o ano anterior, a China vem recompondo sua participação de mercado, na medida em que a queda das exportações do país é inferior à queda dos demais exportadores, caso do Brasil. “O fato se dá pela demora maior da China em retornar suas atividades, após uma rígida política para contenção da Covid-19”, contou a economista, destacando que a normalização dos preços dos fretes também impulsionaram esse crescimento, ampliando a competitividade dos asiáticos em termos de preços.

Estados Unidos e Argentina

Ao mesmo tempo em que a China desponta novamente no mercado internacional, Priscila destacou a queda de 32,2% nas importações norte-americanas de calçados. “Neste cenário, as importações de calçados brasileiros caíram ainda mais, 51,2%. Já as importações de calçados chineses caíram menos, 30,8%. O fato demonstra uma perda na participação do calçado brasileiro e um aumento da presença chinesa. Movimento que também ocorreu na Argentina, onde o Brasil perdeu quase 10% de participação entre janeiro e agosto, participação proporcionalmente ganha pelos asiáticos”, disse.

Aumento das importações

No Brasil, o aumento das importações de calçados também preocupa. Entre janeiro e setembro, entraram no Brasil 23 milhões de pares, pelos quais foram pagos US$ 348 milhões, incrementos tanto em volume (+13,4%) quanto em receita (+28,2%) em relação ao mesmo período do ano passado. As principais origens seguem sendo os países asiáticos, que respondem por mais de 85% do total de calçados que entram no País. “Além do aumento das importações, temos o incremento do cross border realizado pelas plataformas internacionais, hoje isentas de impostos em remessas de até US$ 50, o que afeta diretamente a produção brasileira”, concluiu Priscila.